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terça-feira, 1 de março de 2011

Negação



Nos tempos de estágio na faculdade tive um breve contato com a área de direito de família, aqueles conflitos que compreendem separação, divórcio, guarda e pensionamento de filhos e etc. Foi o suficiente para escolher a área trabalhista. Ao contrário do que todos pensam, o que me fez desviar do direito de família não foi a questão financeira mas sim a indignação que se tem com a vida ao ver o comportamento das pessoas ao término de uma relação. Fim, eu nem diria pois embora um relacionamento entre homem e mulher tenha fim, entre pais e filhos jamais terá e é este o ponto que pretendo enfocar. É incrível como a separação de um casal gera, em grande parte dos homens, uma sensação de “desobrigação”, de isenção de responsabilidade para com tudo o que se liga a esta antiga união, inclusive os filhos. A maioria simplesmente esquece de suas crianças, passa a viver uma nova vida, com uma nova mulher, novos filhos e parece ser impossível conciliar o “antes” com o “agora”.Negam um filho como se nega uma dívida. Passam a questionar valores, brigar por migalhas na justiça como se o mínimo que se dedique ao sustento dos filhos, agora, seja muito, afinal, a justificativa mor é a de que “constituiu uma nova família, portanto não poderá arcar com os valores que anteriormente dedicava aos filhos menores sem prejuízo de seu sustento e de sua família”. Esta é a linguagem jurídica, fria, destituída de qualquer sentido (e sentimento) humanitário, de razoabilidade sequer. Quer dizer então que uma nova família anula a anterior? Que dez novos filhos dão gastos suficientes para eximir o pai de auxiliar no sustento de um filho que já tinha? Mas o pior não é isso. Não nego que a parte financeira dificulta muito as coisas, principalmente para a mãe que terá de sustentar o filho sozinha, mas tem um aspecto muito mais profundo que por vezes passa desapercebido e que para mim é o mais importante. O que acontece dentro de uma criança que cresce se sentindo rejeitada ou ignorada pelo pai? Essa resposta infelizmente (ou felizmente) eu não tenho, talvez nem ela mesmo tenha porque seu mundo deve cingir-se a questionamentos e não a respostas. O que sente uma criança quando, nas raras visitas que faz, vê o pai brincando e sorrindo com o irmão menor (fruto de um novo relacionamento) e não recebe desta pessoa o mesmo amor, a mesma atenção? Já presenciei situações como esta e infelizmente analiso que nem eles mesmo (os pais) têm consciência do mal que fazem aos seus filhos. Há aqueles também que ignoram a sua existência e um belo dia, ameaçados por uma decisão judicial resolvem procurar a criança com um objetivo claro e único. Tão claro que após conseguir a exoneração de alimentos ou a solução do “problema” jamais retornam à companhia do filho. Fico imaginando se estas pessoas têm sentimentos, se não têm vontade de mudar esta realidade, só não têm é coragem para isso. O que num mundo não ideal, mas ao menos mais humano eu gostaria é que as pessoas entendessem que um filho é um filho pra sempre, não importam os fatos que circundam este acontecimento. Um filho é um ser humano e não um objeto do qual alguém pode se desfazer quando não lhe é mais útil ou quando não interessa mais. Responsabilidade. Amor, é o que se quer.
Tainã